Você sabia que a indústria da moda é responsável por cerca de 10% das emissões globais de carbono e quase 20% das águas residuais geradas?
Além de consumir mais energia do que a aviação e o transporte marítimo, JUNTOS!?
Também que pesquisas apontam as compras online menos impactantes na pegada de carbono em comparação às compras em lojas físicas e que, não necessariamente, uma fibra natural representa menos impacto ambiental que o uso de fibras sintéticas derivadas do petróleo?
Se sua resposta foi não para alguma dessas perguntas, reserve 7 minutos do seu dia para ler este artigo. Ele fornecerá subsídios para apoiar o seu processo decisório durante o desenvolvimento de produtos, visando um menor impacto da sua operação no ponto de vista da sustentabilidade, considerando desde a escolha das matérias-primas até o uso e descarte final das peças.
Para conseguirmos tangibilizar o quanto a moda impacta no meio ambiente, vamos pegar uma calça jeans como exemplo: A ONU estima que um único par de jeans requer um quilo de algodão para ser produzido. E, como o algodão tende a ser cultivado em ambientes secos, a produção desse quilo requer cerca de 7.500 a 10.000 litros de água. Isso equivale a cerca de 10 anos de água potável para uma pessoa.
A tecnologia já evoluiu para a produção de denim menos intensivo em recursos, inclusive muitas delas são utilizadas por empresas brasileiras, mas, em geral, o jeans composto de material que está o mais próximo possível do estado natural do algodão, usa menos água e menos tratamentos perigosos para ser produzido, ou seja, quanto menos a proposta de design do produto demandar branqueamentos, jato de areia e menos pré-lavagem, menos impactos aquele produto estará causando no ambiente.
Nessa linha, significa que os tipos de jeans mais populares são os que mais causam danos ao planeta. Por exemplo, tinturas de tecido poluem corpos d’água, com efeitos devastadores na vida aquática e na água potável. E o elastano é feito com materiais sintéticos derivados de plástico, o que reduz a reciclabilidade e aumenta ainda mais o impacto ambiental.
O fabricante de jeans Levi Strauss estima que um par de seus icônicos jeans 501 produzirá o equivalente a 33,4 kg de dióxido de carbono ao longo de toda a sua vida – quase o mesmo que dirigir cerca de 110 km em um carro americano médio.
Pouco mais de um terço dessas emissões vem da produção de fibras e tecidos, enquanto outros 8% são do corte, costura e acabamento do jeans. Embalagem, transporte e varejo respondem por 16% das emissões, enquanto os 40% restantes são provenientes do uso do consumidor – principalmente na lavagem do jeans – e descarte em aterro.
Outro estudo feito na Índia com um jeans que continha 2% de elastano mostrou que a produção de fibras e tecido denim liberou 7 kg a mais de carbono do que aqueles na análise de Levi. Isso sugere que a escolha de produtos de brim bruto terá menos impacto sobre o clima, em comparação com tecidos que apresentam misturas com elastano ou muitos acabamentos.
Esses números alertam a necessidade do desenvolvimento de inovações relacionadas à economia circular, engajadas em destinar a peça para outro uso além do aterro, bem como incentivar tecnologias que preservem as peças limpas por mais tempo, demandando menos lavagem durante a vida útil.
Até aqui falamos bastante de jeans, que tem o algodão a sua principal fonte de matéria-prima, mas não é o algodão e sim o poliéster de polímero sintético que é o tecido mais comum usado em roupas no geral.
Globalmente, “65% das roupas que usamos são à base de polímeros”, diz Lynn Wilson, uma especialista em economia circular, que para sua pesquisa de doutorado na Universidade de Glasgow está se concentrando no comportamento do consumidor relacionado ao descarte de roupas.
Cerca de 70 milhões de barris de petróleo por ano são usados para fazer fibras de poliéster destinadas à produção de roupas e uma camisa feita de poliéster tem o dobro da pegada de carbono em comparação com uma feita de algodão.
Uma camisa de poliéster produz o equivalente a 5,5 kg de dióxido de carbono em comparação com 2,1 kg de uma camisa de algodão.
Mas, o que fazer se o poliéster é uma das fibras favoritas por ser leve, durável e barato?
Mudar para tecido de poliéster reciclado pode ajudar a reduzir as emissões de carbono – o poliéster reciclado libera de metade a um quarto das emissões de poliéster virgem. Mas não é uma solução de longo prazo, já que o poliéster leva centenas de anos para se decompor e pode fazer com que microfibras escapem para o ambiente.
Contudo é importante saber que os materiais naturais também não são necessariamente sustentáveis, pois eles exigem grandes quantidades de água, tinta e transporte. O algodão orgânico pode ser melhor para os trabalhadores rurais que, de outra forma, estariam expostos a enormes níveis de pesticidas, mas a pressão sobre a água permanece.
No entanto, muitas inovações estão sendo desenvolvidas no sentido de fabricar tecidos de menor impacto.
A biocouture, ou moda feita com materiais mais ecologicamente sustentáveis, é cada vez mais uma grande oportunidade. Algumas empresas estão procurando usar resíduos de madeira, frutas e outros materiais naturais para criar seus têxteis. Outros estão tentando maneiras alternativas de tingir seus tecidos ou em busca de materiais que se biodegradem mais facilmente depois de descartados.
Mas também é possível procurar outras formas de reduzir o impacto dos seus produtos procurando utilizar matérias-primas aprovadas em programas de certificação como, por exemplo, o Better Cotton Initiative e o Global Organic Textile Standard, dentre outros.
E a pegada de carbono das roupas também pode ser reduzida de outras maneiras. A forma como os produtos são disponibilizados no mercado tem um grande impacto.
Algumas pesquisas sugeriram que as compras online podem ter uma pegada de carbono menor do que se locomover para lojas tradicionais para comprar produtos, especialmente se os consumidores morarem longe.
Por outro lado, o aumento das compras online também gerou mudanças no comportamento do consumidor, contribuindo para uma cultura de fast-fashion, na qual os consumidores compram mais do que precisam, recebem em casa e devolvem grande parte de suas compras depois de experimentá-las.
A devolução de itens pode efetivamente dobrar as emissões do transporte de suas mercadorias e, se você levar em consideração as falhas nas coletas e entregas, esse número pode crescer ainda mais.
Diante disso, uma marca ou empresa que se engaja em prol da sustentabilidade, além dos materiais, precisa se preocupar com a vestibilidade e comunicação adequada das características dos produtos em seus canais de vendas online, de modo a tornar as vendas mais efetivas e evitar um grande volume de devoluções.
Com isso, aprendemos que somando os esforços de escolha de matérias-primas tecnologicamente mais sustentáveis e associadas a programas de certificação, ao desenvolvimento de um design mais assertivo ao seu público-alvo, sua marca já estará contribuindo para a diminuição dos impactos da moda no ambiente.
Fonte: Adaptado de BBC Future: Smart Guide to Climate Change